quarta-feira, 21 de julho de 2010

Produzi um texto sobre Ecologia Integral  para o curso em Saúde e Segurança Alimentar, para as Agentes Comunitárias de Saúde. Até que não ficou de todo ruim...Tá aqui:

Ecologia Integral


“O bem-estar não pode ser só social, tem de ser também sociocósmico" Leonardo Boff.

Em 1866 um biólogo alemão criou a palavra “Ecologia” e definiu o seu significado como o estudo da interrelação entre todos os sistemas vivos e não vivos entre si e com o meio ambiente. É interessante saber que a origem da palavra nos remete aos antigos gregos, pois o prefixo Eco origina-se do grego Oikos. E Oikos significa Casa.

E o que quer dizer integral? Quer dizer inteiro, todo, com todos os componentes, uno. Por exemplo, um alimento integral significa que nele estão presentes todos os elementos que ele pode fornecer para a nossa alimentação, nosso organismo.

A Ecologia Integral parte de uma nova visão de nós mesmos e nossa relação com a Terra. Na perspectiva da Ecologia Integral, a Terra, os seres vivos e não vivos que aqui habitam são um único ser, uma única entidade. São milhares, milhões, bilhões de sistemas interagindo, fazendo trocas o tempo todo.

E qual é a nossa primeira casa? Pensando bem, é o nosso corpo, não é mesmo?

E já repararam que, apesar de na maioria das vezes não percebermos, estamos o tempo todo nos transformando, mudando? É a unha que cresce, o cabelo que cai, a respiração incessante; é também o pensamento que muda, as emoções, a mente; temos ao longo da nossa vida mudanças em nossas opiniões, nosso comportamento, e vai por aí afora.

E, se somos sistemas em constante interação uns com os outros, a conclusão é que tudo o que acontece conosco irá reverberar, ter conseqüências ao nosso redor. Isso significa que,

“O que ocorrer com a Terra, recairá sobre os filhos da Terra. Há uma ligação em tudo”

Os cosmólogos, que são os cientistas que estudam a origem, estrutura e mudanças no Universo, nos advertem que ele está sempre se constituindo e mudando.

E, como foi dito acima, nós também.

Portanto, nada nem ninguém está pronto! Por isso, temos que ter paciência com o processo global, uns com os outros e também conosco mesmo, pois estamos igualmente em processo de nascimento, construção, constituição, mudanças.

Esta paciência inclui rever atitudes imediatistas, pois estamos acostumados a querer tudo para já, agora, inclusive a satisfação imediata e sem concessão dos desejos e prazeres. Que uma vez satisfeitos, nos levam a querer sempre mais, num ciclo sem fim e aprisionador.

A paciência, portanto, é libertadora.

É uma qualidade indispensável, juntamente com outra dimensão libertadora e fundamental que nos aponta a Ecologia Integral: o cuidado.

Cuidado com nosso corpo, nossa alimentação, nossos pensamentos, atitudes. Um cuidado amoroso e acolhedor, tendo sempre em mente a teia interminável de relações interdependentes.

Um cuidado que pode se expressar, por exemplo, na busca de uma alimentação mais equilibrada e de um estilo de vida mais saudável. Isso não quer dizer que devemos consumir alimentos mais caros e sofisticados, pelo contrário; muitas vezes a riqueza está na simplicidade. Um pequeno canteiro de plantas medicinais que cultivamos com carinho, aproveitando um cantinho da casa, pode significar uma importante mudança de atitude, pode impulsionar outras mudanças em nosso ambiente e nossa vida. Quem sabe este canto estava cheio de lixo e entulho, que pode ser reaproveitado para fazer um adubo orgânico, ou até mesmo utilizar recipientes para o plantio de alimentos sem veneno?

Assim como em uma simples semente está contido todo o potencial de uma grande árvore, as pequenas atitudes também contêm o potencial para transformações, que nem sempre percebemos com clareza.

Este cuidado com a nossa primeira casa (lembrem-se do Oikos) pode ser o primeiro passo, ou um deles para desenvolvermos esta atitude amorosa em círculos cada vez mais amplos. Nossa família, nossa comunidade, a cidade...

É como o desenrolar de um fio, o fio da vida.

Começamos com um olhar sobre nós mesmos, uma reflexão sobre o que significa nossa presença no planeta e vamos ampliando o olhar, até que esta tomada de consciência seja cada vez mais global, interaja com outras e outros “tomadores de Consciência”. Afinal, somos seres de relações, homens e mulheres portadores e sujeitos de transformações: pessoais, comportamentais, coletivas, sociais, políticas, cósmicas (por que não?).

E as grandes mudanças, pacientemente, amorosamente, cuidadosamente , se farão acontecer.

E, como nos ensina Leonardo Boff,

“Importa fazermos as pazes e não apenas uma trégua com a Terra. Cumpre refazermos uma aliança de fraternidade e de respeito para com ela. E sentirmo-nos imbuídos do Espírito que tudo penetra e daquele Amor que, no dizer de Dante, move o céu, todas as estrelas e também nossos corações...e que as mudanças “tenham como consequência a preservação e a potenciação do patrimônio formado ao longo de 15 bilhões de anos e que chegou até nós e que devemos passá-lo adiante dentro de um espírito sinergético e afinado com a grande sinfonia universal.”

Marilda Quintino Magalhães – Julho/2010

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